terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

“Viver é a coisa mais Rara do Mundo”


Essa frase, “Viver é a coisa mais Rara do Mundo”, para quem lê é como qualquer outra frase, falando de viver ou vida, mas para quem descobre aos 14 anos que se tem um câncer na garganta as coisas mudam.


No auge da adolescência, todos os sentidos à flor da pele... escola, amigos, família, vontade de conhecer o mundo.

Aproximadamente as 09h00min da manhã de um dia qualquer do mês de Junho de 2005, sou atendida pelo médico, o qual cuidava do meu problema de hipotireoidismo, analisou meus exames e pediu para refazer todos. Na mesma semana voltei ao médico com todos os exames novos e informou que havia um pequeno nódulo na minha tireóide.

Porém esse nódulo estava aumentando semanalmente, dependendo de como eu movia a cabeça já dava para ver. Fiz todos os procedimentos necessários para verificar o que seria esse nódulo, porém em todos os exames não conseguia obter um resultado, era um ponto de interrogação na cabeça de muitos.

Como toda criança curiosa, fui tratar de saber o que era um nódulo, já que todos diziam ser nada. Acabei encontrando aquilo que eu menos esperava algo que jamais iria passar na cabeça de uma criança de 14 anos, nódulo algo que pode vir a ser câncer. Conclui que eu estava fazendo muitos exames para algo que não era “nada”. Pedi para que meus pais me contassem o que eu realmente tinha, se aquilo que eu li era verdade. Com a voz engasgada, minha mãe me disse que sim.

Na minha cabeça, ali era o fim. Como, por que, justo eu, ainda sou nova, como pode? Perguntas que não tinham respostas, perguntas repletas de medo, lágrimas e dor. Continuei minha vida que ainda era pequena, até o dia que minha prima contou para meus amigos o que eu tinha. Entrei em minha sala como fazia todos os dias e vejo todos me olhando, não era um olhar comum e sim de pena. Foi necessário segundos para eu querer sumir e não ver ninguém. Amigos, quem eram eles? Todos sumiram, mal falavam comigo na escola. Comecei a andar sozinha, meus desenhos, minhas músicas, minhas coisas eram as melhores companhias desse mundo.

Meus dias se limitavam da minha casa ao Boldrini, exames e mais exames. Minhas noites? Tornaram-se dias, daqueles escuros e chuvosos. Não existia vontade dentro de mim, ter que ver e conviver com todas aquelas crianças do centro Boldrini me deixava mal, não porque são especiais, mas porque eu não aceitava aquilo.

No mês de setembro, no dia do meu aniversário fui internada para realizarem a cirurgia na minha garganta, tudo ocorreu bem e logo estava em casa.

Após um mês na minha casa recebi a ligação de uma menina que estudava comigo, porém eu nunca falei com ela. Atendi ao telefone toda desconfiada, porém a pessoa que eu menos espera foi quem ligou para saber como eu estava e se eu precisava de algo. Ela passava todas as tarde comigo, me passando as matérias e me fazendo companhia.

A pessoa que eu menos esperava, aquela que eu nunca disse “oi”, foi quem mais me ajudou nesse momento.

Você pode estar me perguntando, o que tem nisto tudo? Eu te digo, não sabemos o significado de amigos, família, vida, ar, suspiro, sorriso, cabelo, sangue e muitas outras coisas. Na maioria das vezes julgamos todas essas coisas pequenas demais, sempre colocamos algo acima, mas quando você corre o risco de perdê-las, isso tudo muda.

Eu não entendia o porquê de tudo aquilo na minha vida, me encontrei sozinha por um tempo, dúvidas e dúvidas, perguntas sem respostas. Mas notei que tenho o que preciso aqui, que não é necessário ir buscar longe; aprendi que nem todos que dizem a você “sou seu amigo” verdadeiramente são; que você pode ajudar a todos, mas quando você precisar esse “todos” pode ser quem você menos espera e que a VIDA te coloca aonde você menos espera para te ensinar o que ela realmente significa.

Hoje eu sei que “Viver é a coisa mais Rara do Mundo”.






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